Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/316

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ouro que os abrasava. Para quase todos havia sabor especial nesta negra vitoria. A casa, que destruíam, saqueavam e humilhavam, era propriedade de João da Cunha, dentre os nobres o mais odiado, por ser talvez o mais poderoso e vingativo deles. Por isso destroem e aniquilam o que não lhes excita a ambição ou não podem conduzir em seus sacos. Moveis preciosos são jogados das janelas ao pátio, onde se despedaçam. Cada queda, cada destruição serve de objeto a indecentes motejos e dá lugar a indignos comentários. Enfim, longe iríamos se quiséssemos descrever as cenas aviltantes e lastimáveis que dentro de horas se representaram na aristocrática vivenda do sargento-mór.

Tinham eles dado com o deposito dos vinhos — a rica adega do fidalgo — e já se entregavam aos deliciosos espíritos, quando, trêmulos e aterrados, entraram correndo alguns dos espias que, por ordem do Tunda-Cumbe, estavam vigiando nos cantos mais importantes do cercado.

— Fujamos, fujamos, que ai vem uma grande força.

— Bem se dizia que ela havia de vir — disse Pedro de Lima.