Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/412

Wikisource, a biblioteca livre

Mulheres ímpias, mulheres ímpias, que atirais contra a cruz do redentor, vede lá não venhais rasgar as veias sacrossantas daquele que em espirito está aqui pregado nela. Ergueram-se todas as vistas ao ponto donde tais palavras caiam.

Um vulto vestido de negro destacava sobre a larga peanha do cruzeiro. Estava de pé, o braço esquerdo passado em torno da haste pétrea, enquanto o direito destendido parecia acompanhar e completar a direção e o eco de sua voz. A cara branca e macilenta, o perfil negro e esguio, a voz fina e vibrante davam aquele vulto certa aparência majestosa e patética. O que sobressaia nele, cercando-o de uma como virtude misteriosa e fatal, era o animo terso, a temeridade a modo de barbara, a fé passiva e animal que o fizera levantar-se diante das balas inimigas, que em torno de se cortavam o fio de muitas vidas. Esse vulto, esse espectro, esse animo que excedia a medida humana, era um membro da Companhia-de-Jesus. Era o padre Henrique Celini. Fora mandado expressamente do Recife para pregar contra os nobres e a favor dos mercadores. Seu nome devia figurar depois na carta monitoria em que o bispo cometia ao Padre Manoel Lopes