Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/450

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respondeu o jovem negociante em tom sentido. Mas para que falais ainda — continuou logo, como quem se reanimava ao calor de uma inspiração súbita — para que falais ainda em — uma existência que já deve pertencer ao passado? A esta hora, senhora minha, deveis estar viuva, isto é, livre.

— Sois cruel, Sr. Coelho! — retorquiu com voz amargurada a mulher do sargento-mór. Porque trazeis ao meu espirito este fúnebre pensamento? Houve um momento na minha vida em que cheguei a supor que em vosso coração existia um sentimento fidalgo.

— Que quereis dizer, Sra. d. Damiana? interrogou o negociante.

— Que pensei que, não obstante o rancor que tendes ao Sr. João da Cunha, e que vós explicais atribuindo-o à contrariedade de certo afeto que vos inspirei, não hesitaríeis um só momento em salvardes do acabamento o objeto desse rancor, se a salvação dependesse de vós e eu vo-la lembrasse com as lagrimas nos olhos, como agora faço. Vejo, porém, Sr. Coelho, que o vosso ódio é maior do que o vosso amor, e que só a minha desgraça, esta sim não tem medida nem limite na terra.