Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/47

Wikisource, a biblioteca livre

e com a ninhada de filhos que ordinariamente contam, o escasso pão que lhes deram o cavalo magro e o trabalho puxado e cansado.

E pois o cavalo é, para assim escrevermos, a primeira riqueza do almocreve, visto que por ele é que vem a sua sustentação e a de sua família; ter um cavalo é a primeira aspiração do pobre no mato. O almocreve não vota mais afeto à sua mulher do que a seu animal. Por ele dá muitas vezes a vida. Para o reaver, se lho furtam, vai ao fim do mundo e mata o ladrão.

Quando o almocreve, firmando-se pelos dois primeiros dedos do pé, sempre descalço, sobre a raiz da curva da perna do seu cavalo, ganha de um pulo a cangalha, se ele está descarregado, ou a anca se o animal tem carga, considera-se mais feliz e garboso do que um general de mil batalhas. A seus olhos aquela altura que o homem de pé atinge com a mão, lhe parece superior a todo poder humano. Dai não teme o agente da autoridade publica, nem o golpe ou o tiro mortal que lhe desfechem. Reputa-se inacessível a todos os males da terra. Entre suas pernas, querendo-o ele, o cavalo é uma locomotiva que se perde na imensidade dos caminhos