Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/74

Wikisource, a biblioteca livre

e de me terem lembrado as tuas encomendações sempre que eu saia.

— Não diga assim, Francisco. Ele há de ficar bondinho, com o favor de Deus. Você há de ver. Não há tanta gente que nasce ruim e que pelo tempo adiante fica boa?

— Enfim, ai o tens. Foi o menino que encontrei, e agora agüenta-te com ele, que tem sangue no olho e cabelo na venta.

Dias depois, Lourenço já apresentava aspecto diferente do que trouxera. Marcelina tinha feito para ele ceroula e camisa nova, e principiou a sua obra de regeneração pela limpa do corpo.

À tardinha, entrando Francisco com o feixe de capim que fora cortar na baixa para o cavalo, ficou admirado de ver a mudança de Lourenço.

A limpa corporal tinha sido completa.

Desapareceu o cabelo sórdido e especado, que fora cortado rente, as rajás que desfiguravam a cara, as unhas que se podiam comparar com as garras dos carcarás. Lourenço mostrava-se agora na realidade outro do que viera. O banho geral que lhe foi dado por Marcelina o poz ao natural. A cara despojada da crosta terrena em que se envolvia,