Página:O missionário.djvu/325

Wikisource, a biblioteca livre

O púlpito parecia cansado de ter-se a pé, à espera do pregador ausente, manifestando o abandono em que o deixavam nas quebras e rupturas da crosta de óleo colorido com que lhe haviam vestido a nudez de velho cedro sujo. A pia batismal, esbeiçada e limosa, guardava semanas uma água grossa e turva, que ocasionava desastres sinistros de baratas afogadas e dramas obuscuros de lagartixas mortas. O assento do confessionário estava cheio de pó. Do teto pendiam já alguns longos filamentos indicando que as aranhas achavam-se a cômodo naquela grande casa e que a vassoura, outrora desapiedada, do terrível Macário, dormia agora escondida a um canto por trás do altar-mor. Mesmo à entrada da igreja um cão vadio e um cabrito vagabundo haviam profanado o asseio do ladrilho, depositando excrementos que pareciam da véspera. No altar do Senhor dos Passos, o santo mostrava-se mais velho e triste do que de costume; a amarelidão da face larga e chata exprimia um desejo ardente de livrar-se da