Página:O missionário.djvu/609

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Passeava agitado pelo quarto, receando a macieza da rede, tentadora como braços abertos de mulher bonita; já vencido, mas lutando ainda.

Reinava silêncio na casa. A família já estava acomodada.

Da outra banda do igarapé vinha um cheiro forte de baunilha e de cumari, que misturando-se à exalação das flores das laranjeiras do terreiro formava um perfume afrodisíaco que entrava pelas portas dentro e lhe subia ao cérebro, para o embriagar e tirar-lhe o último lampejo de razão que o esclarecia na luta travada com a sua carne desejosa e virgem.

Passou a noite toda de pé, com medo de se ir deitar, como se a rede o atraísse para o pecado; ora desesperado, sentindo a antecipação das penas do inferno, ora ardendo em desejos viris, pensando em abrir a porta, sair para a varanda e entrar à força no quarto da Clarinha, ora caindo em desânimo, maldizendo a covardia do Macário, que o incitara a fugir aos mundurucus