Página:O seminarista (1875).djvu/151

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— Fica sossegada, meu amor, eu hei de voltar. Adeus... um último beijo ainda...

Este diálogo era suspirado com voz trêmula e abafada entre lágrimas, e ninguém poderia adivinhar que fundas tristezas, que ansiosas e cruéis inquietações se exalavam naqueles tímidos e sentidos arrulhos, que mais pareciam vagos murmúrios da solidão perdendo-se nas asas da brisa, confundidos com o ramalhar da folhagem e o burburinho da fonte vizinha.

Um momento depois, o mesmo vulto, que vimos atravessar o vale rápido e leve como um silfo noturno, lá se ia vagaroso e como que se arrastando a custo a se esgueirar pelas sombras do vargedo. De quando em quando parava, voltava-se para trás, apertava as mãos convulsivamente contra o peito; um estremeção como de um soluço agitava o corpo, e com a voz que mais era um gemido murmurava Margarida!

Dir-se-ia alma penada ou duende da noite, que com a aproximação do dia se recolhia ululando aos fúnebres lugares donde havia saído.