Página:O seminarista (1875).djvu/245

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dizem que os sinos, sem que ninguém os tocasse, deram badaladas fúnebres, e que um tufão escancarando a porta interior do frontispício entrara pela nave e apagara a lâmpada do santuário.

O padre estava de palidez cadavérica, e seus olhos desvairados despediam de quando em quando lampejos torvos e sombrios.

Sinistros pensamentos lhe ondeavam desencontrados pela mente agitada, como nuvens que se despedaçam por um céu tempestuoso ao sopro rijo das refegas.

Precipitado do alto do seu puro e austero ascetismo no abismo da fraqueza, o espírito do padre tombou em outro abismo mais fundo e talvez mais degradante. Atassalhado de remorsos, de vergonha e desesperação, julgando-se perdido sem remédio e para sempre, entregou-se de corpo e alma à torrente da fatalidade que o arrastava.

— Já que assim o quiseram os homens - murmurava consigo -, já que assim o ordena a sanha irresistível do destino, assim seja; serei um padre sacrílego, um padre infame, como tantos outros, que todos os dias profanam com mãos impuras os vasos do altar e a hóstia sacrossanta. Era essa a sina fatal que desde o berço me estava fadada... Margarida não morre... o que a atormenta não é