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Página:O seminarista (1875).djvu/45

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e do corvo, que talhando os ares lá se iam perder nas douradas brumas do ocaso demandando os sítios venturosos onde morava a bem querida do seu coração, e pesaroso por não poder acompanhá-los dizia-lhes do íntimo d'alma: - dai saudades a Margarida!

O sino da capela badalando ave-marias o vinha despertar daquelas doces e saudosas cismas.

— Anda, sorumbático!... vamos, meu sonso!... que estás aí banzando? bradavam-lhe seus galhofeiros e alegres companheiros.

Então os meninos, descobrindo-se com as mãos postas dentro de seus barretes, os olhos baixos, e a fronte venerabunda postavam-se em semicírculo em face do regente, e murmuravam em voz baixa a prece das Ave-Marias.

Eugênio, posto que com o espírito preocupado pelas inquietações e saudades de um afeto terreno, rezava com mais fervor e recolhimento do que seus frívolos e descuidosos companheiros. Seu espírito apurado ao fogo de um amor infantil e casto, como o sutil e rosado vapor da manhã, despegava-se da terra com facilidade remontando ao firmamento.

As puras e santas afeições da alma, longe de a desviarem do caminho do céu, são asas com que mais depressa se eleva ao trono de Deus.