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o sertanejo

fabricas. Fazia largo cerco ao redor de uma coroa de mato, balsa emmaranhada que irriçavam os talos espinhosos das carnaubas.

     Armados uns de arcabuses e clavinotes, outros de parnahibas e facas do mato, excitavam-se mutuamente á avançar ; nenhum contudo se resolvia a ser o primeiro. Não que lhes faltasse a coragem, provada nos azares da vida aspera do sertanejo ; mas o perigo desconhecido nunca deixa de infundir um vago assombro que si não abate o valor, entorpece a resolução. Não são todos que ousam affronta-lo á sangue frio.

     Até aquelle momento ignorava-se o que havia no capoão ; e a cousa tomava feição de misterio que nesses tempos supersticiosos dava thema para as mais absurdas visões.

     Um dos caens do curral tinha farejado o quer que era no matagal e dera aviso. Logo acudiu toda a matilha que não cessava de latir e com ella os rapazes, que a estumavam para investir.

     Entretanto a brenha permanecia silenciosa ; não se ouvia o menor sussurro e as folhas do arvoredo apenas afflavam com o brando sopro da viração. Esta placidez, que devera tranquillizar, era precisamente a causa do terror, porque