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o sertanejo
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     A respiração da donzella, sopitada pela vertigem, foi-se restabelecendo ; o seio arfou brandamente com o primeiro alento, e na face que parecia de alabastro perpassara um frouxo vislumbre de côr.

     Ajoelhou então o sertanejo á beira do canapé ; tirando do peito uma cruz de prata, que trazia ao pescoço, presa a um relicario vermelho, deitou-a por fóra do gibão de couro. Com as mãos postas e a fronte reclinada para fitar o symbolo da redempção, murmurou uma Ave-maria, que offereceu á Virgem Santissima como acção de graças por haver permittido que elle chegasse a tempo de salvar a donzella.

     Terminada a oração, volveu a vista em torno como se temesse que as paredes se crivassem de olhos para espia-lo, e perscrutou o semblante da donzella com uma expressão pavida e supplicante. Afinal, tremulo, pallido, qual se commetesse um crime, curvou-se e beijou a franja que guarnecia o fraldelhim do roupão, como se beija a mais santa das relíquias.

     Tenue suspiro exhalou dos labios já rosados da donzella ; a mão esquerda moveu-se com um brando gesto que a approximara do seio. O