Página:O sertanejo (Volume II).djvu/251

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Águeda ficou suspensa, fascinando com o olhar ao mancebo, que a fitava alucinado.

— Fale!... murmurou ao ouvido de Arnaldo, unindo o seu ao rosto dele. Que prova quer? Um beijo?...

E descaíu languidamente a cabeça de modo que a bôca apinhada, roçando pela face do mancebo, veio embeber-se em seus lábios.

Ao contacto dêsse beijo ardente Arnaldo estremecera, como se visse erguer-se diante dele uma serpente, a cuspir-lhe no rosto sua baba impura. Recuou soltando um rugido surdo, e as mãos ambas impelidas por um instintivo movimento de horror, foram cerrar-se no colo da moça.

Por algum tempo o mancebo permaneceu na mesma posição, com o corpo imóvel, os braços hirtos como os braços da fôrca, os olhos fechados, sentindo nas mãos as retrações convulsivas da mísera mulher as quais êle tomava pelo colear da serpente. As vascas da agonia indicavam-lhe que o réptil ainda vivia, e êle esperava.

Êsse pesadelo o dominou de tal modo que fugiu-lhe a lembrança do lugar onde se achava e dos fatos que se haviam passado momentos antes.