Página:O sertanejo (Volume II).djvu/252

Wikisource, a biblioteca livre

Afinal abriu as pálpebras; e viu espavorido que tinha nas mãos a infeliz mulher, com os olhos esbugalhados e a língua saída pela bôca escâncara. Rangerm-lhe os dentes de frio, e das mãos trêmulas escapou o corpo que rolou pelo chão.

De um pulo ganhou o mancebo a janela e desapareceu.

No dia seguinte, ao chegar de sua jornada, Jó encontrou o sertanejo espojado no chão da caverna, falou-lhe, mas êle fitou os olhos e não respondeu. Era a alucinação que durava ainda. A mesma cena da noite debuxava-se em sua alma com formas estupendas e monstruosas.

O velho conhecia estas procelas d’alma; e sabia que, à semelhança das outras que conturbam os elementos, elas só passam quando o céu descarrega os vapores de que estão pejadas as nuvens.

Jó deixou, portanto, Arnaldo ao seu delírio e submergiu-se no passado, onde vivia mais do que no presente, êle que já não tinha futuro.

Decorreram as horas. Era já sobretarde, quando sentiu-se na caverna uma ligeira vibração. Jó e Arnaldo ergueram a cabeça de chofre, e olharam-se. Ambos por um simultâneo