Página:O sertanejo (Volume II).djvu/42

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e o maranhão dorme ainda, em pé no meio do brejo, com a cabeça metida embaixo da asa e uma das pernas encolhida.

Além aparecia ao longe um mar doce. Era o Quixeramobim, que pejado com as chuvas do inverno, transbordara do leito submergindo toda a zona adjacente. No meio dêsse oceano boiava uma coroa de terra, que a torrente impetuosa arrancara da margem, e que deslizava como uma ilha flutuante.

Uma vaca surpreendida naquela nesga do solo continuava a pastar muito tranquila o capim viçoso, e às vezes fitava admirada a margem, que ia fugindo rapidamente à sua vista.

A várzea estava coalhada de gado, que no comprido pêlo e no aspecto arisco mostrava ser barbatão. Os touros erguendo a cabeça por cima das franças do panasco, lançavam à comitiva um olhar inquieto.

— É boi como terra! exclamou o Daniel Ferro com o seu falar sertanejo.

— Nem porisso, observou Ourém. Pela notícia, esperava outra coisa. Alí haverá quando muito umas cem cabeças.