Página:O sertanejo (Volume II).djvu/87

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generoso, nem mesmo leal, aproveitar-se daquele acidente para pegar o boi que êle queria vencer por seu esfôrço e valentia, e não pelo acaso. Assim parou à espera que o touro se desvencilhasse dos cipós.

— Não dou em homem deitado, camarada. Safe-se da embrulhada em que se meteu, meu Dourado, e tome campo; que daquí dêste arção, ninguém o tira. Digo-lhe eu, Arnaldo Louredo, que nunca mentí a homem, quanto mais a boi.

Isto dizia o sertanejo a rir, e o Corisco parecia entendê-lo, pois olhava o Dourado com um certo ar de mofa e soltava uns relinchos mui alegres, que se diriam estrídulas gragalhadas.

A êstes relinchos do Corisco responderam a alguma distância outros cavalos, mas com a voz abafada. Arnaldo aplicou o ouvido para bem distinguir aqueles sons e marcar a direção e lugar presumível donde vinham.

Entretanto o Dourado conseguira desembaraçar-se da meada de enrediças, e astutamente espreitava a ocasião de espirrar daquele refúgio, de modo a ganhar parte do avanço que perdera.

Arnaldo não teve tempo de demorar-se na escuta. O boi arrancara de novo e êle seguia-lhe