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Co’os olhos o que desejo,
Na memoria e na firmeza
Me concede a natureza
O natural que não vejo.
Mote Alheio.
Sem vós, e com meu cuidado,
Olhae com quem, e sem quem.
Glosa.
Vendo Amor que com vos ver
Mais levemente soffria
Os males que me fazia,
Não me pôde isto soffrer;
Conjurou-se com meu Fado;
Hum novo mal me ordenou:
Ambos me levão forçado,
Não sei onde, pois que vou
Sem vós e com meu cuidado.
Não sei qual he mais estranho
Destes dous males que sigo,
Se não vos ver, se comigo
Levar imigo tamanho.
O que fica, e o que vem,
Hum me mata, outro desejo:
Com tal mal, e sem tal bem,
Em taes extremos me vejo:
Olhae com quem, e sem quem!
Ao Mesmo
Amor, cuja providencia
Foi sempre que não errasse,