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Chorae, olhos tristes,
O bem que perdestes.
A luz do sol pura
Só a vós se negue;
Seja noite escura,
Nunca a manhãa chegue.
O campo floreça,
Murmurem as ágoas,
Tudo me entristeça,
Cresção minhas mágoas.
Quizera mostrar
O mal que padeço;
Não lhe dá lugar
Quem lhe deu comêço.
Em tristes cuidados
Passo a triste vida;
Cuidados cansados,
Vida aborrecida.
Nunca pude crer
O que agora creio:
Cegou-me o prazer
Do mal que me veio.
Ah ventura minha,
Como me negaste!
Hum so bem que tinha,
Porque mo roubaste?
Triste fantasia
Quanta cousa guarda!
Quem ja visse o dia,
Que tanto lhe tarda!
Nesta vida cega