157
ELEGIAS
ELEGIA I.
O sulmonense Ovidio desterrado
Na aspereza do Ponto, imaginando
Ver-se de seus Penates apartado;
Sua chara mulher desamparando,
Seus doces filhos, seu contentamento,
De sua Patria os olhos apartando;
Não podendo encobrir o sentimento,
Aos montes ja, ja aos rios se queixava
De seu escuro e triste nascimento.
O curso das estrellas contemplava,
E aquella ordem com que discorria
O ceo e o ar, e a terra adonde estava.
Os peixes por o mar nadando via,
As feras por o monte procedendo
Como o seu natural lhes permittia.
De suas fontes via estar nascendo
Os saudosos rios de crystal,
Á sua natureza obedecendo.
Assi só, de seu proprio natural
Apartado, se via em terra estranha,
A cuja triste dor não acha igual.