Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/187

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Dos goivos longe vejo o sentimento;
Dos jasmins perto estou vendo o perigo;
Dos malmequeres vejo o soffrimento.

Deste me temerei como inimigo;
Mas traz por armas salva, que he razão:
Com ella acabará tambem comigo.

As minhas vem a ser huma affeição,
Que são os puros cravos misturados
Co’a vontade sujeita, que he limão.

Ai mosquetas, que sois d’amor cuidados!
Ai crespa mangerona, que es prazer!
Vós sós devieis adornar os prados.

Não pódem dous oppostos juntos ser:
Onde se põe giesta, que he lembrança,
Junto do rosmaninho, que he ’squecer?

Bem peza do leve álamo a mudança;
Do roxo goivo anima o pensamento
Do cypreste odorifero a esperança.

O trevo, que he sentido apartamento,
Cérca o mangericão, que se interpreta
Memoria a quem offende o esquecimento.

Mais importuna que o jardim de Creta,
A ameixieira a flor está soltando:
A segurelha vejo, que he discreta.

As hervas que daqui irei tomando,
São a pura cecem, qu’he saudade;
Cravos, medo de ver qual de amor ando.

E, de ter mui perdida a liberdade,
Tomarei madresylva entendimento;
Legação tomarei, porqu’he verdade.

Marmeleiro me dá arrependimento: