Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/217

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Tantos negocios arduos e importantes,
Dignos do largo Imperio, que regeis;
Como sempre nas armas rutilantes
Vestido, o mar e a terra segureis
Do pirata insolente, e do tyrano
Jugo do potentissimo Othomano;

E como com virtude necessaria,
Mal entendida do juizo alheio,
Á desordem do vulgo temeraria
Na santa paz ponhais o duro freio;
Se com minha escriptura longa e vária
Vos occupasse o tempo, certo creio
Que com vagante e ociosa phantasia
Contra o commum proveito peccaria.

E não menos sería reputado
Por doce adulador, sagaz e agudo,
Que contra meu tão baixo e triste estado
Busco favor em vós que podeis tudo,
Se contra a opinião do vulgo errado
Vos celebrasse em verso humilde e rudo.
Dirão, que com lisonja ajuda peço
Contra a miseria injusta que padeço.

Porém, porque a verdade póde tanto
No livre arbitrio, (como disse bem
Ao Rei Dario o moço sabio e santo,
Que foi reedificar Hierusalem)
Esta m’obriga a qu’em humilde canto,
Contra a tenção que a plebe ignara tem,
Vos faça claro a quem vos não alcança;
E não de premio algum vil esperança.

Romulo, Baccho e outros que alcançárão