Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/221

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Do Lusitano braço nunca brando.
Não soffreste o grão brado penetrante,
Que os trovões imitava do Tonante.

Mas antes dando as costas e a victoria
Á Bragancez ventura não corrido,
Déste bem a entender quão grande glória
He de tal vencedor o ser vencido.
Quem faz obras tão dignas de memoria
Sempre será famoso e conhecido,
Onde os altos juizos o estimarem,
Qu’estes sós tẽe poder de fama darem.

Não vos temais, Senhor, do povo ignaro,
Tão ingrato a quem tanto faz por elle;
Mas sabei qu’he signal de serdes claro
O ser agora tão malquisto delle.
Themistocles, da patria sua amparo,
O forte e liberal Cimon, e aquelle
Que Leis ao povo deo d’Esparta antigo,
Testimunhas serão de quanto digo.

Pois ao justo Aristídes hum robusto,
Votando no ostracismo costumado,
Lhe disse claro assi: Porque era justo
Desejava que fosse desterrado.
Pachitas por fugir do povo injusto
Calumnioso, dando no Senado
Conta de Lesbos, qu’elle ja mandára,
Se tirou co’o seu ferro a vida chara.

Demosthenes, lançado das tormentas
Populares, Ó Pallas! foi dizendo,
Que de tres monstros grandes te contentas,
Do drago e moucho, e do vil povo horrendo!