Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/413

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Pois que tal odio lhe tem,
Fallemos, Senhora, em al;
Mas eu digo que ninguem
Merece por querer bem
Que a quem lho quer, queira mal.

DIONYSA.

Deixae-o vós doudejar.
Se meu pae, ou meu irmão,
O vierem a aventar,
Não ha elle de folgar.

SOLINA.

Deos meterá nisso a mão.

DIONYSA.

Ora hi polas almofadas,
Que quero hum pouco lavrar;
Por ter em que me occupar;
Qu’em cousas tão mal olhadas
Não se ha o tempo de gastar.

SOLINA.

Que cousa somos mulheres!
Como somos perigosas!
E mais estas tão viçosas
Qu’estão á boca que queres
E adoecem de mimosas!
Se eu não caminho agora
A seu desejo e vontade;
Como faz esta Senhora,
Fazem-se logo nessa hora
Na volta da honestidade.
Quem a vira o outro dia
Hum poucochinho agastada,