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SCENA II.



Venadoro e Florimena.

VENADORO.


<poem>
Pois que me vim alongar
Dos caminhos e da gente,
Fortuna, que o consente,
Se devia contentar
De me ter tão descontente.
Porém, segundo adivinho,
Por tão espêsso arvoredo,
Por tão aspero rochedo,
Quanto mais busco o caminho,
Tanto mais delle me arredo.
O cavallo, como amigo,
Ja cansado me trazia:
Mas deixou-me todavia;
Que mal pudera comigo
Quem comsigo não podia.
Quero-me aqui assentar
Á sombra, nesta hervinha,
Porque canso ja de andar;
Mas inda a fortuna minha
Não cansa de me cansar.
Junto desta fonte pura
Não sei quem cuido qu’está;
Mas no coração me dá
Que aqui me guarda a Ventura
Alguma ventura má.
Ou ganhado, ou bem perdido,
Faça, emfim, o que quizer,