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Pelo mato anda espalhada;
Mas ainda ninguem tomou,
Que soubesse delle nada.

LUSIDARDO.

Oh fortuna nunca igual!
Quem me fara sabedor
De meu filho e meu amor?
Que se he muito grande o mal,
Muito mor he o temor.
Quem tolhe que não achasse
Algum leão temeroso
N’algum monte cavernoso,
Que sua fome fartasse
Em seu corpo tão formoso?
Quem ha que saiba, ou que visse,
Que das montanhas erguidas
Algum monstro não sahisse,
E com seu sangue tingisse
As hervas nellas nascidas?
Oh filho! vai-me a lembrar
Quantas vezes os mandava
Que deixasseis o caçar!
Não cuidei de adivinhar
O que Fortuna ordenava.
Eu irei, filho, buscar-vos
Por esses montes, por hi,
Ou a perder-me, ou cobrar-vos;
Que morte que quiz matar-vos,
Quero que me mate a mi.
Onde fostes fenecido,
Seja tambem vosso pae;