Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/469

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SCENA II.

Vilardo e Doloroso, que vem dar hum descante a Solina com os Musicos.

VILARDO.

Assi que te contava, Doloroso, destas em que sempre andão rugindo as sedas.

DOLOROSO.

Avante, que bem sei que o não dizeis polas sedas de Veneza.

VILARDO.

Ja sabeis que esta nossa Solina he tão Celestina, que não ha quem a traga a nós.

DOLOROSO.

Logo parece moça brigosa, que por dá cá aquellas palhas, dará e tomará quatro espaldeiradas; e ao outro dia quem ha de cuidar que huma mulher de sua arte ha de querer bem a hum parvo como a ti? porque estas taes são como homens sisudos; se de noite se achão em algum arruido, onde possão fugir sem serem conhecidos, facilmente o fazem; e ao outro dia quem ha de cuidar que hum tão honrado havia de fugir? Outros dizem: Bem pode ser, porque noite escura he capa de Judeos e de envergonhados.

VILARDO.

Mui gentil comparação he esta. Mas assi que te dizia, o outro dia assi zombando lhe prometti de lhe dar huma musica, e ja chamei outros dous meus amigos, que logo hão de vir aqui ter comnosco.

DOLOROSO.

Que tal he a musica que determinas de lhe dar? </poem>