Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/47

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Para Senador Romano.
Oh que grandissimo engano!
Que Momo lhe abrisse o peito!
Consciencia, que sobeja,
Siso, com que o mundo reja,
Mansidão outro que si;
Mas que lobo está em ti,
Metido em pelle de oveja!
E sabem-no poucos.

Guardae-vos de huns meus Senhores,
Que ainda comprão e vendem;
Huns, qu’he certo, que descendem
Da geração de pastores:
Mostrão-se-vos bons amigos;
Mas se vos vem em perigos,
Escarrão-vos nas paredes;
Que de fóra dormiredes,
Irmão, que he tempo de figos;
Porque de rabo de porco nunca bom virote.

Que direis d’huns, que as entranhas
Lh’estão ardendo em cobiça,
E se tẽe mando, a justiça
Fazem de teas de aranhas?
Com suas hypocrisias,
Que são de vossas espias:
Para os pequenos huns Neros,
Para os grandes tudo feros.
Pois tu, parvo, não sabías,
Que lá vão leis, onde querem cruzados?

Mas tornando a huns enfadonhos,
Cujas cousas são notorias;