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A HUMA DAMA, QUE LHE CHAMOU DIABO, POR NOME FOÃ DOS ANJOS
Mote.

Senhora, pois me chamais
Tão sem razão tão mão nome,
Inda o diabo vos tome.

Voltas.

Quem quer que vio, ou que leo,
Terá por novo e moderno,
Ter quem vive no inferno,
O pensamento no ceo.
Mas se a vós vos pareceo,
Que m’estava bem tal nome,
Esse diabo vos tome.

Perdido mais que ninguem
Confesso, Senhora, ser;
Mas o diabo não quer
Aos Anjos tamanho bem.
Pois logo não me convem,
Ou se me convem tal nome,
Será para que vos tome.

Se vos benzeis com cautella,
Como de Anjo, e não de luz,
Mal póde fugir da Cruz,
Quem vós tendes pôsto nella.
Mas ja que foi minha estrella
Ser diabo, e ter tal nome,
Guardae-vos, que vos não tome.

Ja que chegais tanto ao cabo,
Com as mãos, postas aos ceos
Vou sempre pedindo a Deos,