Assi he; e quanto a mim,
Isso vos nasce de a terdes
Tão perto dos olhos verdes.
Os cabellos desatados
O mesmo sol escurecem;
Senão que por ser ondados,
Algum tanto desmerecem:
Mas á fé, que se parecem
A furto dos olhos verdes,
Não vos peze, não, de os terdes.
As pestanas tẽe mostrado
Ser raios, que abrazão vidas:
Se não forão tão compridas,
Tudo o mais era pintado:
Ellas me tinhão levado
A alma, sem o vós saberdes,
Se não forão os olhos verdes.
O mimo desse carão
Nem pôr-lhe os olhos consente:
O ser liso e transparente
Rouba todo o coração:
Inda assi achareis nação,
Que lhe não peze de os verdes;
Mas não seja co’os olhos verdes.
Esse riso, que he compôsto
De quantas graças nascêrão,
Senão que alguns me disserão,
Vos faz covinhas no rôsto.
Na vontade tenho posto
Dar-vos a alma, se quizerdes,
A trôco dos olhos verdes.
Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/95
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