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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/216

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N'hum tão alto lugar, de tanto preço,
Este meu pensamento posto vejo,
Que desfallece nelle inda o desejo,
Vendo quanto par mi o desmereço.
  Quando esta tal baixeza em mi conheço,
Acho que cuidar nelle he grão despejo,
E que morrer por elle me he sobejo
E mór bem para mi, do que mereço.
  O mais que natural merecimento
De quem me causa hum mal tão duro e forte,
O faz que vá crescendo de hora em hora.
  Mas eu não deixarei meu pensamento,
Porque inda qu'este mal me causa a morte,
Un bel morir tutta la vita honora.
CCLXXXIII.
Quantas penas, Amor, quantos cuidados,
Quantas lagrimas tristes sem proveito,
De que mil vezes olhos, rosto e peito,
Por ti, cego, me viste ja banhados;
  Quantos mortaes suspiros derramados
Do coração por tanto a ti sujeito,
Quantos males, em fim, tu me tens feito,
Todos forão em mi bem empregados.
  A tudo satisfaz (confesso-te isto)
Huma só vista branda e amorosa
De quem me captivou minha ventura.
  Oh sempre para mi hora ditosa!
Que posso temer ja, pois tenho visto,
Com tanto gôsto meu, tanta