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Pois eu só por te ver suspiro tanto:
As mágoas, os suspiros, que m'ouviras
Te puderão mover a grande espanto,
A dor, a piedade, a sentimento,
E a mais, que para mais he meu tormento.
Os pensamentos vãos, que o vento leve:
O suspirar em vão tambem ao vento;
Hum esperar á calma, á chuva, á neve,
E nunca poder ver-te hum só momento;
Tormento he, que somente a ti se deve.
E se póde inda haver maior tormento,
Quem te vio, e se vê de ti ausente,
Muito mais passará mais levemente.
Faz mossa a pedra dura em sua dureza
Com a ágoa que lhe toca brandamente;
Abranda o ferro forte a fortaleza,
Se lhe toca tambem o fogo ardente:
Em ti só desconheço a natureza;
Que, a ser de pedra ou ferro totalmente,
Ja teu peito cruel fôra desfeito
Das ágoas e das chammas do meu peito.
Quando a formosa Aurora mostra a fronte,
Alegra toda a terra, vendo o dia;
Quando Phebo apparece no horizonte,
Manifesta tambem grande alegria;
Contente pasce o gado ao pé do monte,
Contente a beber vai na fonte fria:
Está tudo contente, alegre tudo;
Eu só, só pensativo, triste e mudo.
Se ja d'alma e do corpo tens a palma,
E do corpo sem alma não tens dó,{210}
Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/283
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