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E vós, cujo valor tão alto excede,
Que, a cantá-lo com voz alta e divina,
A fonte do Parnaso move a sêde;
Ouvi da minha humilde çanfonina
A harmonia, que vós ja levantais
Tanto, que de vós mesmo a fazeis dina.
Mas se agora que affabil m'escutais,
Não ouvirdes cantar com alta tuba
O que vos deve o mundo, que dourais;
E se os Reis avós vossos, que de Juba
Os Reinos debellárão, não ouvis
Que nas azas do excelso verso suba;
Se não sabem as frautas pastoris
Pintar de Toro os campos semeados
D'armas e corpos fortes e gentis;
Por hum Moço animoso sustentados,
Contra o indomito Rei de toda Hespanha,
Contra a fortuna vãa e injustos fados:
Hum Moço, cujo esfôrço, brio e manha,
Do Olympo fez descer o duro Marte,
E dar-lhe a quinta esphera, que acompanha;
Se não sabem cantar a menor parte
Do sapiente peito e grão conselho,
Que pôde, ó Reino illustre, descansar-te;
Peito, que ao douto Apollo faz, vermelho,
Deixar o sacro Monte e as nove Irmãas,
Porque a elle se affeitem como a espelho;
Saberão bem cantar, em nada vãas,
D'Alicuto as contendas e d'Agrario;
Hum d'escamas coberto, outro de lãas.
Vereis, Duque sereno, o estylo vário,{214}
Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/287
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