A nós novo, mas n'outro mar cantado
De hum, que só foi das Musas secretario:
O pescador Sincero, que amansado
Tẽe o pégo de Prochyta co'o canto
Por as sonoras ondas compassado.
Deste seguindo o som, que póde tanto,
E misturando o antigo Mantuano,
Façamos novo estylo, novo espanto.
Partira-se do monte Agrario insano
Para onde a fôrça só do pensamento
Lh'encaminhava o lasso pêzo humano.
Embebido em hum longo esquecimento
De si, e do seu gado e pobre fato,
Apos hum doce sonho e fingimento,
Rompendo as sylvas horridas do mato,
Vai por cima d'outeiros e penedos,
Fugindo, emfim, de todo humano trato.
Ante os seus olhos leva os olhos ledos
Da branca Dinamene, qu'enverdece
Só co'o meneo valles e rochedos.
Ora se ri comsigo, quando tece
Na phantasia algum prazer fingido;
Ora falla; ora mudo s'entristece.
Qual a tenra novilha, que corrido
Tẽe montanhas fragosas e espessuras,
Por buscar o cornigero marido;
E cansada nas humidas verduras
Cahir se deixa ao longo d'hum ribeiro,
Ja quando as sombras vem cahindo escuras;
E nem co'a noite ao valle seu primeiro
Se lembra de tornar, como sohia,{215}
Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/288
Aspeto