Perdida por o bruto companheiro:
Tal Agrario chegado, emfim, se via
Onde o grão pégo horrisono suspira
N'huma praia arenosa, humida e fria.
Tanto que ao mar estranho os olhos vira,
Tornando em si, de longe ouvio tocar-se
De douta mão não vista e nova lira.
Fez-lhe o som desusado desviar-se
Para onde mais soava, desejando
D'ouvir e conversar, e de provar-se.
Muito não tinha proseguido, quando
Em a concavidade d'hum penedo,
Que pouco a pouco fôra o mar cavando,
Topou hum pescador, que prompto e quedo,
N'huma pedra assentado, brandamente
Tangendo, faz o mar sereno e ledo.
Mancebo era d'idade florecente,
Pescador grande do alto, conhecido
Por o nome de toda humida gente:
Alicuto se chama: que perdido
Era por a formosa Lemnoria;
Nympha que tẽe o mar ennobrecido.
Por ella as redes lança noite e dia;
Por ella as ondas tumidas despreza;
Por ella soffre o sol e a chuva fria.
Co'o seu nome mil vezes a braveza
D'irados ventos amansou co'o verso,
Que remove das rochas a dureza.
E agora em som de voz, suave e terso,
Está seu nome aos ecos ensinando
Por estylo do agreste som diverso.{216}
Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/289
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