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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/295

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Co'o brando bafo, com que o sol s'enfria,
Não podem, Nympha minha, assi aprazer-me,
Como o ver-te, se em tanto chego a ver-me.
            AGRARIO.
  A deosa, que na Lybica lagôa
Em fórma virginal appareceo,
Cujo nome tomou, que tanto sôa,
Os olhos bellos tẽe da côr do ceo:
Garços os tẽe; mas huma, que a corôa
Das formosas do campo mereceo,
Da côr do campo os mostra graciosos.
Quem diz, que não são estes os formosos?
            ALICUTO.
  Perdoem-me as deidades; mas tu, diva,
Que no liquido marmore es gerada,
A luz dos olhos teus, celeste e viva,
Tẽes por vício amoroso atravessada:
Nós petos lhe chamâmos; mas quem priva
De luz o dia, baixa e socegada
Traz a dos seus nos meus, qu'eu o não nego;
E com toda esta luz sempre estou cego.
  Assi cantavão ambos os cultores
Do monte e praia, quando os atalhárão;
A hum pastores, a outro pescadores.
  E quaesquer a seu Vate coroárão
De capellas idoneas e formosas,
Que as Nymphas lhes tecêrão e ordenárão:
  A Agrario de murtinhos e de rosas;
A Alicuto d'hum fio de torcidos
Buzios, e conchas ruivas e lustrosas.
  Estavão n'ágoa os peixes embebidos{