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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/320

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Podemos apanhar hum cesto cheio.
  Mas além de tudo isto hum crespo galho
De vermelho coral te darei logo,
Que por dita arrastou o meu tresmalho.
  Mas ai! qu'em vão te chamo, em vão te rógo;
Que nem tu a meus rogos tens respeito,
Nem eu, por mais que grite, desaffógo.
  Hum coração em lagrimas desfeito
Como ja não te abranda? quem encerra
Crueza tal em tão formoso peito?
  Não reina Amor no mar, como na terra?
Bem sabes que mil vezes ja venceo
A Neptuno teu Rei em clara guerra.
  Sua formosa mãe onde nasceo,
Senão no proprio mar em que te banhas?
Onde Thetis por Péleo em fogo ardeo?
  Se das pedras nascesses nas montanhas,
Se com leite de tigres te criáras,
Mais duras não tiveras as entranhas.
  Apparecêras tu, e então tornáras
Logo a esconder-te, logo, se quizeras
Nas ondas, que de ti me são avaras.
  Com hũa mostra só que de ti deras,
A vida, que me foge em não te vendo,
Co'os teus formosos olhos detiveras.
  Então víras os meus, donde correndo
De lagrimas se vem dous largos rios,
Que o mar tambem em si vai recolhendo.
  Ah nescio pescador! que desvarios
Me deixo aqui dizer! a quem os digo!
A surdas ondas ja, ja a ventos frios.{247}
  Elles e