Sinal n'aldeia dando em seu bramido
De qu'era ja perdido o pastor seu.
Tamanha pena deo á bella Ulina
(Bella, porém mofina) a pena minha,
Sôbre quantas ja tinha no seu peito,
Que mais do triste leito não s'ergueo.
Seu pae adoeceo tambem de nojo:
Da morte foi despojo ao dia quinto.
A dor que daqui sinto he sem medida.
Pois m'apartou da vida, a vida acabe,
Ou n'alma, onde não cabe, faça pausa.
Fulgencia, que foi causa destes males,
Des que montes e valles descobrio,
Despois que me não vio em toda a serra,
Deixou, deixando a terra, mágoa aos pais,
Que della nunca mais novas souberão.
Emfim, tal fim tiverão meus amores.
Chorárão os pastores juntamente
D'Ulina descontente a triste sorte,
Do pae a breve morte, e de Fulgencia
A vingadoura ausencia de seu êrro;
De mi este destêrro em que me pôs.
Mas mais chorastes vós, meus olhos tristes,
Quando de vossa luz, sem a do dia,
Por terras tão estranhas vos partistes.
Cuido que meia noite então seria;
Cantando os gallos ja na triste aldeia,
Chorava só quem della se partia.
Casa de meus suspiros sempre cheia,
(Disse eu, quando passei pela de Ulina)
Tal fructo colhe quem amor semeia!{
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