E esse innocente riso,
Por quem Apollo o Tejo torna Amphriso.
Outeiros coroados
Das árvores que fazem a espessura
Com os ramos copados
Alegre, que mão destra os não cultiva,
Graça tão excessiva
Não tẽe na sua natural verdura,
Quanta na d'esses olhos, clara e pura,
Deposita a esperança,
Com que Amor gôsto, a mãe tormento alcança.
Dos simples passarinhos
A musica sem arte concertada,
D'entre os verdes raminhos,
Tão suave não he, tão deleitosa
A quem na selva umbrosa
Com mente ouvindo-a está toda enlevada,
Quanto a mi essa falla doce agrada,
E o natural aviso,
Que roubão a Mercurio sceptro e siso.
De frescos rios ágoa,
Que clara entre arvoredos se deriva,
Cahindo d'alta fragoa,
Esmaltando de perolas no prado
O verde delicado,
Com brando som aos olhos fugitiva,
Não nos alegra quanto a graça esquiva
D'essa luz soberana,
Que faz cortez a rustica Diana.
A tal luz (ó Canção, que ousaste vella!)
Vendo estás ja prostrado{343}
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