Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v1.djvu/224

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Que ousaram murmurar da infâmia régia,
Das nódoas de uma vida libertina!
Iam em grande gala. O Rei cismava
Na glória de espetar no pelourinho
A cabeça de um pobre degolado.
Era um Rei bon-vivant e Rei devoto;
E, como Luís XI, ao lado tinha
O bobo, o capelão... e seu carrasco.
O cavalo do Rei, sentindo o morto,
Tremente de terror parou nitrindo,
Deu d'esporas leviano o cavaleiro
E disse ao capelão:

"E não enterram
Esse homem que apodrece, e no caminho
Assusta-me o corcel?"

Depois voltou-se
E disse ao camarista de semana:
"Conheces o defunto? Era inda moço,
Daria certamente um bom soldado.
A figura é esbelta! Forte pena!
Podia bem servir para um lacaio."

Descoberto, o faceiro fidalgote
Responde-lhe fazendo a cortesia: