Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v1.djvu/226

Wikisource, a biblioteca livre


IV

Ia caindo o sol. Bem reclinado
No vagaroso coche madornado
Depois de bem jantar fazendo a sesta,
Roncava um nédio, um barrigudo frade...
Bochechas e nariz, em cima uns óculos
Vermelho solidéu... enfim um bispo,
E um bispo, senhor Deus! da idade média,
Em que os bispos — como hoje e mais ainda -
Sob o peso da cruz bem rubicundos,
Dormindo bem, e a regalar bebendo,
Sabiam engordar na sinecura!
Papudos santarrões, depois da missa,
Lançando ao povo a bênção — por dinheiro!

O cocheiro ia bêbado por certo:
Os cavalos tocou p'lo bom caminho
Mesmo em cima das pernas do cadáver...
Refugou a parelha, mas o sota
— Que ao sol da glória episcopal enchia
De orgulho e de insolência o couro inerte,