Qual um raio de luz adamantina,
Multicôr, irisado d’uma auréola,
Desprendido do céo sobre minh’alma.
Qual em quêda palúde á noite, ás vezes,
Uma estrella sósinha vem mirar-se,
Erma nos céos desertos, tal nas trevas
Do viver me era o anjo; — e era uma rosa
Recendente de odores d’outra vida
Melodiosa de canticos d’amores
Que a brisa lhe soprara la no Eden
— Despegada da c’roa d’algum anjo
No remontar aos céos — ainda pura
Dos bafejos das auras deste mundo
— Desfolhada ao cahir em minha fronte —
Que eu amei com amor de todo o peito!
E que importa não saiba a linda virgem
Amores que palpitão-me no seio?
Que importa desconheça ella esse culto
E santo e puro — mystico e suave
A exhalar-me n’alma odor celeste?
Não pudéra ella amar-me — não quizera-o;
Essa flôr sorriria ao ver um verme
A rojar-se sob ella, que adorasse-a;
Esse anjo escarnecêra de piedade
O meu insano amor — indigno eu delle!
Oh! não! emmurchecida, aos pés calcada,
Morra antes no meu peito, qual vivêra
Silente e muda, a rosa d’esperanças
Em sonhos de porvir adormecida
Em tantas noites — a cantar d’amores!
Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v1.djvu/51
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