Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/267

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vai só. -Se tu soubesses no que eu penso e no que tenho pensado! Enquanto eu falo minha alma desvaria, e a minha febre devaneia. Sonhei sangue no peito dela, sangue nas minhas mãos, sangue nos meus lábios, no céu, na terra . .. em tudo! Pareceu-me que tremia nas escadas bambas do cadafalso... senti a risada amarela do homem da vingança... depois minha cabeça escureceu-se Pensei no suicídio . Macário, Macário, não te rias de mim! como o vagabundo, que se debruça sobre um precipício sem fundo, senti a vertigem regelar meus cabelos hirtos e um suor de medo banhar minha fronte. Tenho medo! Sou um doido, Macário, eu o sei. Que longa vai essa noite! A lua avermelhada não lança luz no céu escuro: nem a brisa no ar: é uma noite de verão, ardente como se a natureza também tivesse a febre que inflama meu cérebro!. .

(Numa sala. Sobre a mesa livros de estado. Penseroso encostado na mesa. Macário fumando.)

Penseroso: Li o livro que me deste, Macário. Li-o avidamente. Parece que no coração humano há um instinto que o leva à dor