Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/271

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A vida está na garrafa de Conhaque, na fumaça de um charuto de Havana, nos seios volutuosos da morena. Tirai isso da vida-o que resta? Palavra de honra que é deliciosa a água morna de bordo de vossos navios' que tem um aroma saudável as máquinas de vossos engenhos a vapor! que embalam num farniente balsâmico os vossos cálculos de comércio! Não sabeis da vida. Acende esse charuto, Penseroso, fuma e conversemos.

Falas em esperanças. Que eternas esperanças que nada parem! o mundo está de esperanças desde a primeira semana da criação e o que tem havido de novo? Se Deus soubesse do que havia de acontecer, não se cansara em afogar homens na água do dilúvio, nem mandar crucificar, macilenta e ensangüentada, a imagem de seu Cristo divino. O mundo hoje é tão devasso como no tempo da chuva de fogo de Sodoma. Falais na indústria, no progresso? As máquinas são muito úteis, concordo. Fazem-se mais palácios hoje, vendem-se mais pinturas e mármores-mas a arte-degenerou em ofício-e o gênio suicidou-se.

Enquanto não se inventar o meio de ter mocidade eterna, de poder amar cem mulheres numa noite, de viver de música e perfumes, e de saber-se a palavra mágica que fará recuar das salas do banquete universal o espectro da morte-antes disso, pouco tereis adiantado.

Dizes que o mundo caminha para o Oriente. Não serei eu, nem o sonhador daquele livro que ficaremos no caminho. O harém,