Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/347

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seios meio-nus, onde os diamantes brilhavam como gotas de orvalho — ergueu-a nos braços; deu-lhe um beijo. Ao calor daquele beijo, seminua, ela acordou: entre os vagos sonhos se lhe perdia uma ilusão talvez; murmurou — "amor!" e com olhos entreabertos deixou cair a cabeça e adormeceu de novo.

O homem tirou do seio um frasquinho de esmeralda.

Levou-o aos lábios entreabertos dela: e verteu-lhe algumas gotas que ela absorveu sem senti-las. Deitou-a e esperou. Daí a instantes o sono dela era profundíssimo... A bebida era um narcótico onde se misturaram algumas ,gotas daqueles licores excitantes que acordam a febre nas faces e o desejo volutuoso no seio.

O homem estava de joelhos: o seu peito tremia, e ele estava pálido como após de uma longa noite sensual. Tudo parecia vacilar-lhe em torno Ela estava nua: nem veludo, nem véu leve a encobria: — O homem ergueu-se, afastou o cortinado.

A lâmpada brilhou com mais força — e apagou-se...

O homem era Claudius Hermann.



Quando me levantei, embucei-me na capa e sai pelas ruas. Queria ir ter a meu palácio, mas estava tonto como um ébrio. Titubeava e o chão era lúbrico como para quem desmaia. Uma idéia contudo me perseguia. Depois daquela mulher nada houvera mais para mim. Quem uma vez bebeu o suco das uvas purpurinas do paraíso, mais nunca deve inebriar-se do néctar da terra...