Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/348

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Quando o mel se esgotasse, o que restava a não ser o suicídio?

Uma semana se passou assim: todas as noites eu bebia nos lábios a dormida um século de gozo. Um mês!! o mês! em que delirantes iam os bailes do entrudo, em que mais cheia de febre ela adormecia quente, com as faces em fogo!

Uma noite — era depois de um baile — eu esperei-a na alcova, escondido atrás do seu leito. No copo cheio d'água que estava junto a sua cabeceira derramara as ultimas gotas do filtro, quando entrou ela com o Duque.

Era ele um belo moço!! Antes de deixá-la passou-lhe as duas mãos pelas fontes e deu-lhe um beijo. Embevecido daquele beijo, o anjo pendeu a cabeça no ombro dele, e enlaçou-o com seus braços nus, reluzentes das pulseiras de pedraria. O duque teve sede, pegou no copo da duquesa, bebeu algumas gotas; ela tomou-lhe o copo — o resto. Eu os vi assim: aquele esposo ainda tão moço, aquela mulher — ah! e tão bela! de tez ainda virgem — e apertei o punhal

— Viras hoje, Maffio?, disse ela.

— Sim, minh'alma.

Um beijo sussurrou, e afogou as duas almas. E eu na sombra sorri, porque sabia que ele não havia de vir.



Ele saiu, ela começou a despir-se. Eu vi uma por uma caírem as roupas brilhantes, as flores e as jóias —