Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/352

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de susto. Sentiu-se quase nua, exposta as vistas de um estranho, e tremia como contam os poetas que tremera Diana ao ver-se exposta, no banho, nua as vistas de Acteon.

— Senhor, dizei-me por compaixão, se tudo isso não é uma ilusão se não fora uma infâmia!! Nem quero pensá-lo. Maffio não deve tardar, não e assim? o meu Maffio! Tudo isso e uma comédia...Mas que alcova é esta? Eu adormeci no meu palácio como despertei numa sala desconhecida? Dizei, tudo isso e um brinco de Maffio? quer se rir de mim?...Mas, vede, vede, eu tremo, tenho medo.

O homem não respondia: tinha os olhos a fito naquela forma divina: seria a estátua da paixão na palidez, no olhar imóvel, nos lábios sedentos, se o arfar do peito lhe não denunciasse a vida.

Ela ajoelhou-se: nem sei o que ela dizia. não sei que palavras se evaporaram daqueles lábios: eram perfumes, porque as rosas do céu só tem perfumes; eram harmonias, porque as harpas do céu só tem harmonias; e o lábio da mulher bela e uma rosa divina, e seu coração e uma harpa do céu. Eu a escutava, mas não a entendia: sentia só que aquelas falas eram muito doces, que aquela voz tinha um talismã irresistível para minh'alma, porque só nos meus sonhos de infante que se ilude de amores, uma voz assim me passara. Os gemidos de duas virgens abraçadas no céu, doiradas da luz da face de Deus, empalidecidas pelos beijos mais puros, pelo tremuloso