Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/353

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dos abraços mais palpitantes — não seriam tão suaves assim!

A moça chorava, soluçava: por fim ela ergueu-se.

Eu a vi correr a janela, ia abri-la tomei-a pelas mãos

— Pois bem, disse ela, eu gritarei...se não for um deserto, se alguém passar por aqui...talvez me acudam...Socor...

Eu tapei-lhe a boca com as mãos

— Silencio, senhora!

Ela lutava para livrar-se de minhas mãos: por fim sentiu-se enfraquecida. Eu soltei-a de pena dela.

— Então, dizei-me onde estou — dizei-m'o, ou eu chamarei por socorro

Não gritareis, senhora!

— Por compaixão então esclarecei-me nesta duvida: por que tudo isso que eu vejo? Tudo o que penso, o que adivinho e muito horrível!

— Escutai pois, disse-lhe eu. Havia uma mulher... era um anjo. Havia um homem que a amava, como as águas amam a lua que as prateia, como as águias da montanha o sol que as fita, que as enche de luz e de amor. Nem sei quem ele era: ergueu-se um dia de uma vida de febre, esqueceu-a; e esqueceu o passado, diante de uns olhos transparentes de mulher, as manchas de sua historia, numa aurora de gozos, onde se lhe desenhava a sombra desse anjo... Escutai: não o amaldiçoeis! Esse homem tinha muita infâmia no passado: profanara sua