Página:Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo v2.djvu/360

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Sim! longas noites no fervor do jogo

Esperdicei febril e macilento:

E votei o porvir ao Deus do acaso

E o amor profanei no esquecimento!

Murchei no escárnio as coroas do poeta

Na ironia da glória e dos amores:

Aos vapores do vinho, a noite insano

Debrucei-me do jogo nos fervores!

A flor da mocidade profanei-a

Entre as águas lodosas do passado

No crânio a febre, a palidez nas faces

Só cria no sepulcro sossegado!

E asas límpidas do anjo em colo impuro

Mareei — nos bafos da mulher vendida:

Inda nos lábios me roxeia o selo

Dos beijos da perdida.

E a mirra das canções nem mais vapora

Em profanada taça eivada e negra:

Mar de lodo passou-me ao rio d'alma

As níveas flores me estalou das bordas.

Sonho de glórias só me passe a furto

Qual flor aberta a medo em chão de tumbas

— Abatida e sem cheiro

O meu amor ...o peito o silencia:

Guardo-o bem fundo — em sombras do sacrário.

Onde ervaçal não se abastou nos ermos.

Meu amor foi visão de roupas brancas

Da orgia a porta, fria e soluçando:

Lâmpada santa erguida em leito infame: