Caía a noite, e apenas cintilava
No Céu alguma estrela; ao chão baixava
Escassamente a luz, que Cíntia fria
Mal distinta espalhava entre a sombria
Rama da espessa mata e duros troncos.
Não se ouvem mais que os formidáveis roncos
De aves noturnas, e famintas feras.
Só tu, Garcia amante, consideras
Oportuna a teus ais a estação triste;
Amor, que ardendo no teu peito assiste,
Vai buscar o remédio a seu cuidado;
Ele te guia e leva disfarçado
À choça que às três índias deu abrigo.
Oh! quanto louvas o silêncio amigo,
Quanto o sono dos mais! Chega, repara
Na velha aflita, que a choupana avara
Apenas cobre com a palha agreste;
A leve cana, que as montanhas veste,
Já seca ao sol se acende, e a luz ministra
Com que uma a uma as índias três registra.
Na língua nacional, que não ignora,
Saúda, e neste instante a Mãe de Aurora
Conhece; Aurora, a bela prisioneira
Que houve da mão de Arzão, que co'a primeira
Medalha de ouro ele prendara; cresce
De novo a admiração, e se oferece
A Índia a dar-lhe relação da filha.
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