Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/211

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Como um e outro Tape se socorre
Dos pés nadantes, e nas mãos levando
O pronto ferro, o tronco vão rasgando
Co'as cortadoras facas; já de todo
Boiando o fazem vir; por arte e modo
Não pensado o arrojam sobre a praia.
De curioso ardor cada um se ensaia
Em arrancar-lhe das entranhas tudo
Quanto a fome tragara; absorto e mudo,
Pegado está notando a maravilha.
Três veados comera, enquanto trilha
A margem da lagoa; estão inteiros
No ventre e ainda em pêlo os dous primeiros.
Riem-se os índios de Pegado, e o riso
Tem ao Mancebo então mais indeciso,
Vendo que novo ali não conhecera
Que é o Sucuriú aquela fera,
De quem ouvido aos nacionais havia
Que um tronco na grandeza parecia.

Mas não foi tão debalde este portento,
Que olhando para o sítio, aonde assento
Fizera o monstro, o chão não descobrisse
Inda mal apagado, e não se visse
Um vestígio de humana sepultura.
Manda cavar Pegado a terra dura,
E dentro (oh! pasmo!) os ossos encontrava
De um cadáver, a quem assinalava
A cruz que tem de Cristo e lhe servira
De hábito, ou mortalha; então se admira
Mais cada um; e aviso ao Herói dando,
Todos ao mesmo passo vão cercando
Em roda a sepultura: Borba chega,
Afirma que é Rodrigo e logo alega